Particularidades da idealista, a quem interessar.

Esse texto é bastante pessoal. Ao contrário da maioria das coisas que escrevo, não é fantasioso ou fictício, mas a realidade com a qual eu convivo todos os dias. Talvez seja desnecessária essa introdução, talvez ninguém se dê ao trabalho de ler isso – amo todos os que tentarem – mas preciso explicar algumas coisas aos possíveis leitores. Existem pessoas tímidas no mundo, várias, e também existem as neuróticas. Sempre achei que eu me encaixasse entre esses dois conceitos, até descobrir que tenho um transtorno de personalidade em estado avançado, digamos. Chama-se fobia social. Eu poderia procurar os termos técnicos, mas vou tentar explicar com minhas palavras. Fobia social, ou transtorno de ansiedade social, é uma espécie de timidez extrema, combinada a um medo constante de rejeição e (obviamente) do contato social. Muitos poderiam pensar que é uma “frescura”, “coisa de gente que quer chamar a atenção” – você que pensa assim, não prestou atenção na parte que eu falei de medo extremo do contato social? É um pavor irracional, sem fundamento nem razão: está “impresso” na minha mente provavelmente desde que eu nasci – já que não passei por nenhum trauma grave na vida, como uma mãe alcoólatra ou um pai que me espancava diariamente. Enfim, levou um tempo considerável para que eu escrevesse isso e tomasse coragem de publicar, mas aqui está. Talvez ajude alguém a entender melhor a situação.

O Grito (Parte II)

grito

Parte I

Queria gritar tão alto que até os deuses a ouviriam, mas a voz não queria mais sair, e suas cordas vocais pareciam um amontoado de barbante enrolado. Sentia-se como se tivesse esgotado seu uso ao longo da noite, e agora tivesse de recarregar para que funcionasse normalmente. Os outros sentidos também não pareciam estar em seu melhor momento, e isso a preocupava. As pálpebras recusavam-se a se abrir, como se seladas por uma cola, impedindo que visualizasse o ambiente ao seu redor. A audição, igualmente, não estava em perfeito funcionamento, os pequenos sons que ouvia eram abafados, como se tivesse tufos de algodão nos ouvidos. A sensação dos dedos amortecidos contra a superfície em que estava deitada sobre – aparentemente um colchão – era a mesma de quando se dorme em cima de um braço, acordando no meio da noite com o insuportável formigamento percorrendo o membro.
O mesmo episódio estranho, contudo, não acontecia com suas narinas, que pareciam ser a única coisa em seu corpo em perfeitas condições – felizmente! Mesmo assim, isso não ajudava muito, pois ela era capaz de captar apenas o misto de aromas no ar: alguma comida requentada, o ar abafado característico de ambientes fechados a muito tempo, o cheiro de mofo tomando conta do local… Eram perfumes demais para que os reconhecesse individualmente, principalmente com o rosto enterrado no que parecia ser uma almofada, ou travesseiro.

O Grito (Parte I)

zindy

“Devia parar de aceitar tantas horas extras…” Era o pensamento que se instalava na mente do jornalista, enquanto torcia o pescoço para todos os lados possíveis na tentativa de diminuir o desconforto causado pelas horas passadas na mesma posição. A cada torção, uma nova contração, mas ele continuava a fazer os ossos estalarem. Sabia que de nada adiantaria se contorcer feito um verme, mas era a única solução que tinha sem incluir o costumeiro coquetel de analgésicos. Não somente o pescoço, mas os pulsos, dedos e braços também ansiavam por se movimentarem – era como se seu corpo estivesse assumindo o controle do cérebro, que já não mais coordenava os músculos, ossos e tecidos do organismo.
Fazia meses que pensava em abandonar de vez o emprego e montar um negócio de… De quê? Sapatos italianos falsificados? Blusões de tricô? Artes indígenas? Em que diabos estava pensando? Já não havia mais tempo em sua vida para explorar. Bem, na casa dos 30, sem família ou amigos íntimos, e sem maiores opções de emprego além do velho jornaleco da cidadezinha, não lhe restava muita coisa. Era isso ou fazer melhor uso da pistola decorativa pendurada em sua parede…

Cárcere das Almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

Cruz e Souza

Divagações de Ninguém a respeito do Brasil…

Estou intoxicada pela revolução (sim, eu disse revolução!). Orgulhosa – talvez pela primeira vez em meus poucos dezoito anos de vida – de dizer que sou brasileira. Depois de acompanhar todas as manifestações dos últimos dias, fui intoxicada pelos protestos, manifestações e diversas causas que desencadearam isso tudo. Os 0,20 centavos deixaram de ser o ponto central da discussão, e quem ainda se apega a isso deveria parar para refletir um pouco mais sobre toda a movimentação. Críticas à parte – contra os atos ISOLADOS e MINORITÁRIOS de vandalismo, além da violência policial e excessos cometidos – hoje estou orgulhosa do povo brasileiro. Podem me perguntar: e daí? Quem é você para falar isso e por que eu me importaria com a sua opinião, Diana?