Pulsos

Na primeira inspiração forçada, quando o ar gelado se infiltrou nos minúsculos pulmões, Mariana soube que havia algo errado com o filho que lhe era arrancado as pressas do útero. Não por intuição materna ou forças ocultas lhe ocupando a mente, mas por razão muito mais simples: ele viera ao mundo em completo silêncio, sem choros ou berros. Na verdade, não produzira som algum: nem do chacoalhar dos braços e pernas gorduchos, nem os murmúrios ou gemidos naturais dos recém-nascidos. Somente o silêncio profundo e sufocante preencheu a sala de parto naquele dezessete de julho. Mais tarde, vieram os médicos com a notícia pela qual ela esperava:
– Houve complicações durante o parto, tivemos de fazer uma opção emergencial por conta de um erro clínico… Desculpe-me, senhores, seu filho não possui mais um coração. – foram as desculpas do cirurgião a ela e ao marido.